As cartomantes do passado
A matéria do jornal já começa
destacando o grande número de cartomantes instaladas na cidade do Rio de
Janeiro, onde teriam encontrado um lugar livre e hospitaleiro para o
desenvolvimento do seu trabalho. E as cartomantes faziam sucesso, recebendo uma
grande clientela, principalmente entre as mulheres.
Uma das visitadas pelo repórter, foi uma cartomante italiana, vinda de Veneza. Morando no Brasil e atendendo em uma casa simples, ela pede para o repórter tirar 21 cartas com a mão esquerda. Enquanto ela vai espalhando as cartas sobre a mesa, com uma voz trêmula vai fazendo sua leitura. O repórter relata, ter sentido um misto de pavor e desconfiança. Pavor com os seus acertos e revelações do seu passado e uma desconfiança acreditando que muitas das coisas por ela reveladas, nada mais seriam que apontamentos sobre a vida de qualquer pessoa, que teria paixões, desenganos, amigos e inimigos. A cartomante também fez previsões sobre o Brasil, dizendo que na política o país só tenderia a piorar. Também arriscou dizer que Portugal voltaria para a Monarquia.
Outra cartomante visitada
pela reportagem foi uma Portuguesa que se auto-declarava “a mais verdadeira
cartomante da cidade”, moradora de uma casa bem humilde, tanto, que impressionou o repórter
pela pobreza da sua residência. Nem bem o repórter foi recebido, quando ele manifestou
o desejo de ver previsões sobre política, a cartomante informa que não fazia
este tipo de previsão. E ele se retirou.
Em seguida, foi a vez da
reportagem consultar a Madame Santos, "cartomante e massagista". Ela, uma morena de
cabelos negros, vestida com um robe de chambre claro impressiona o repórter. O local também chama atenção dele, com
diferentes baralhos e imagens de vários santos. Sobre o destino do Brasil,
relembro que a reportagem é de 1912,
a cartomante disse que o país passaria por algumas
revoluções e o presidente Marechal Hermes não terminaria o seu mandato, encontrando-se
doente ou que ficaria doente. Mas não disse mais nada além disso, justificando que
previsões sobre política não eram o seu forte. Como podemos pesquisar, realmente
não eram, pois ela errou sua previsão sobre o presidente Marechal Hermes, que terminou
o seu mandado e faleceu somente em 1923.
A quarta visitada pelo repórter,
foi a cartomante madame Sinai, ela impressionou o repórter com charme e beleza.
E se sentiu bem confortável em fazer previsões sobre política. Disse que o
Brasil viveria em constantes agitações. Sobre o presidente disse que estava
cercado de falsos amigos que anulam e comprometem o seu governo. Sobre Portugal
disse que a república se consolidaria no país. Em geral ela acertou as suas previsões.
A quinta cartomante a ser
visitada era conhecida como Madame Zizina, a Thébes Brasileira. Algumas pessoas
contavam que a sua casa era misteriosa e que uma figura presente em um vaso na
calada da noite se animaria e começaria a dançar. E os contos relacionados a sua
residência não param por aí, iam de gato preto que se transformava em figuras
infernais e até que suas lâmpadas da sala que faziam sair fogo exatamente como
no inferno. Entre as suas previsões disse que ocorreriam muitas revoltas, disse
que o Presidente Hermes da Fonseca provavelmente iria renunciar e que nosso próximo
presidente seria Nilo Peçanha, o chamando de moreno simpático O repórter finalizou
a reportagem ironizando o sucesso de Nilo Peçanha com as mulheres, onde
certamente seria eleito se as eleições tivessem o voto feminino, em 1912 as
mulheres ainda não votavam.
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