As cartomantes do passado


Vasculhando reportagens antigas encontramos uma matéria bastante curiosa, sobre cartomantes da década 10 do século passado. Há mais de 100 atrás, estas senhoras já faziam sucesso com suas cartas, e tão grande, que viraram até matéria de jornal.

A matéria do jornal já começa destacando o grande número de cartomantes instaladas na cidade do Rio de Janeiro, onde teriam encontrado um lugar livre e hospitaleiro para o desenvolvimento do seu trabalho. E as cartomantes faziam sucesso, recebendo uma grande clientela, principalmente entre as mulheres.

O jornal da matéria é o A Época, do Rio de Janeiro, edição de 7 de dezembro de 1912.
  


Uma das visitadas pelo repórter, foi uma cartomante italiana, vinda de Veneza. Morando no Brasil e atendendo em uma casa simples, ela pede para o repórter tirar 21 cartas com a mão esquerda. Enquanto ela vai espalhando as cartas sobre a mesa, com uma voz trêmula vai fazendo sua leitura. O repórter relata,  ter sentido um misto de pavor e desconfiança. Pavor com os seus acertos e revelações do seu passado e uma desconfiança acreditando que muitas das coisas por ela reveladas, nada mais seriam que apontamentos sobre a vida de qualquer pessoa, que teria paixões, desenganos, amigos e inimigos. A cartomante também fez previsões sobre o Brasil, dizendo que na política o país só tenderia a piorar. Também arriscou dizer que Portugal voltaria para a Monarquia.

Outra cartomante visitada pela reportagem foi uma Portuguesa que se auto-declarava “a mais verdadeira cartomante da cidade”, moradora de uma casa bem humilde, tanto, que impressionou o repórter pela pobreza da sua residência. Nem bem o repórter foi recebido, quando ele manifestou o desejo de ver previsões sobre política, a cartomante informa que não fazia este tipo de previsão. E ele se retirou.

Em seguida, foi a vez da reportagem consultar a Madame Santos, "cartomante e massagista". Ela, uma morena de cabelos negros, vestida com um robe de chambre claro impressiona o repórter.  O local também chama atenção dele, com diferentes baralhos e imagens de vários santos. Sobre o destino do Brasil, relembro que a reportagem é de 1912, a cartomante disse que o país passaria por algumas revoluções e o presidente Marechal Hermes não terminaria o seu mandato, encontrando-se doente ou que ficaria doente. Mas não disse mais nada além disso, justificando que previsões sobre política não eram o seu forte. Como podemos pesquisar, realmente não eram, pois ela errou sua previsão sobre o presidente Marechal Hermes, que terminou o seu mandado e faleceu somente em 1923.

A quarta visitada pelo repórter, foi a cartomante madame Sinai, ela impressionou o repórter com charme e beleza. E se sentiu bem confortável em fazer previsões sobre política. Disse que o Brasil viveria em constantes agitações. Sobre o presidente disse que estava cercado de falsos amigos que anulam e comprometem o seu governo. Sobre Portugal disse que a república se consolidaria no país. Em geral ela acertou as suas previsões. 
Aqui três das cartomantes da reportagem. A fotografia da esquerda é de Madame Zizina, infelizmente pela foto ser antiga, e em papel jornal, não dá para perceber por completo os detalhes da sua casa assombrada. Nas fotografias do lado direito, vemos a cartomante italiana (no topo) e Madame Santos (na foto inferior). 

A quinta cartomante a ser visitada era conhecida como Madame Zizina, a Thébes Brasileira. Algumas pessoas contavam que a sua casa era misteriosa e que uma figura presente em um vaso na calada da noite se animaria e começaria a dançar. E os contos relacionados a sua residência não param por aí, iam de gato preto que se transformava em figuras infernais e até que suas lâmpadas da sala que faziam sair fogo exatamente como no inferno. Entre as suas previsões disse que ocorreriam muitas revoltas, disse que o Presidente Hermes da Fonseca provavelmente iria renunciar e que nosso próximo presidente seria Nilo Peçanha, o chamando de moreno simpático  O repórter finalizou a reportagem ironizando o sucesso de Nilo Peçanha com as mulheres, onde certamente seria eleito se as eleições tivessem o voto feminino, em 1912 as mulheres ainda não votavam. 

Veja também:
  1. O rapaz e o tênis novo
  2. Elizabeth Taylor e suas premonições
  3. Uma crônica esotérica de 1912

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